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Entrevista de Nicole Scherzinger ao New York Times
out 07 2023

Matéria do NY Times, de Roslyn Sulcas, traduzida e adaptada pelo Portal Nicole:

Nicole Scherzinger estava exausta. Havia uma semana que a nova produção de Jamie Lloyd da peça “Sunset Boulevard”, de Andrew Lloyd Webber, havia começado e Nicole está no papel principal de Norma Desmond – uma estrela esquecida dos filmes mudos em busca um retorno que não acaba bem.

Na versão “sem firulas” dirigida por Jamie, com foco no psicológico da trama, a mentalidade desmoronante de Norma é o centro da história, que trata menos da perda da fama e mais das consequências emocionais de ser a abandonada enquanto ainda se tem muitos talentos. *SPOILER* No final do espetáculo na noite anterior, Scherzinger ficou sozinha no palco, coberta de sangue e atordoada, parecendo mal perceber os aplausos intensos da plateia.

“É extenuante”, ela disse na semana passada enquanto estava encolhida em uma cadeira nas profundezas do Savoy. “Mas por muitos anos tenho dito que estou usando apenas uma fração do meu potencial, e agora sinto que realmente explorei isso.”

A glamorosa Scherzinger, de 45 anos, pode parecer inicialmente uma escolha estranha para o papel de Norma, imortalizado por Gloria Swanson no filme de 1950 dirigido por Billy Wilder, no qual o musical se baseia. Nicole ficou famosa como a vocalista principal das Pussycat Dolls, um grupo feminino formado no início dos anos 2000. E embora tenha interpretado Grizabella em uma nova produção de “Cats” de Lloyd Webber no West End em 2014, sua carreira após as Pussycat Dolls incluiu dois álbuns solo e longos períodos como jurada em “The X Factor” e “The Masked Singer”.

A própria Scherzinger ficou resistente quando Lloyd, o aclamado “diretor experimental”, pediu para se encontrar e sugeriu o papel há cerca de 18 meses. “Há muitos papéis que eu queria interpretar no teatro, mas este não era um deles!” ela disse ao longo de uma entrevista de uma hora. “Eu não estava certa se a ideia era um elogio ou um insulto. Mas Jamie me disse para não assistir ao filme; ler as falas, ouvir a música. E eu me apaixonei perdidamente por isso.”

Em uma conversa telefônica, Jamie Lloyd disse que primeiro pensou em dirigir uma nova produção de “Sunset Boulevard” durante a pandemia e “imediatamente pensou que Nicole deveria estar nele”.

Lloyd acrescentou que Norma Desmond passou a ser vista como um papel para uma atriz mais velha. No entanto, ele queria uma mulher “que está no auge, realmente brilhante, mas foi descartada, assim como falamos até agora sobre mulheres com mais de 40 anos não tendo as oportunidades que deveriam ter”, disse ele. “Eu senti que havia uma conexão para Nicole, que teve uma fama extraordinária internacional, mas depois não teve a oportunidade de atingir seu potencial.”

Falando sobre sua carreira, Scherzinger disse que, embora tenha sido uma criança tímida e desajeitada, sempre teve “um desejo e uma determinação”. Nascida em Honolulu, filha de um pai filipino e de uma mãe ucraniana havaiana, foi criada em um ambiente religioso e protegido em Louisville, Kentucky, por sua mãe e um padrasto americano de origem alemã, cujo sobrenome ela adotou.

Embora seus pais fossem trabalhadores de classe média baixa com pouco dinheiro para frequentar concertos ou teatro, ela cresceu cantando e amando música (a família de sua mãe tinha um grupo musical chamado Sons and Daughters of Hawaii). Ela frequentou uma escola de artes cênicas, atuou profissionalmente em Louisville e estudou teatro (“Stanislavski e Shakespeare e tudo mais”) e canto na faculdade.

Depois de sair da faculdade mais cedo para se juntar a uma banda de rock acústico, Scherzinger fez uma audição para “Popstars”, um reality show que oferecia aos vencedores um lugar em um grupo musical e um contrato de gravação. Seu grupo vencedor, Eden’s Crush, teve um sucesso modesto, e “isso me tirou de Louisville”, disse ela sobre sua mudança para Los Angeles.

Em 2003, ela fez uma audição para as Pussycat Dolls, um antigo grupo de burlesco reimaginado como um grupo de garotas sensuais que cantam e dançam. Scherzinger se tornou a vocalista principal e um nome conhecido em todo o país, com as Dolls vendendo milhões de discos com hits como “Don’t Cha” e “Buttons”.

Ela era famosa, mas para uma mulher que “cresceu cantando na igreja”, ela lutou com as roupas reveladoras do grupo e a imagem sexualizada, passando mais de uma década se exercitando obsessivamente e lutando contra a bulimia. “Eu gostaria de poder voltar atrás e aproveitar, perceber que isso não vai durar para sempre”, disse ela. “Talvez seja isso que Norma sinta: era a sua juventude, ela trabalhou tão duro, e não pode voltar atrás.”

As Pussycat Dolls se desfizeram em 2010, e Scherzinger buscou uma carreira solo com sucesso modesto. Foi durante esse período que ela interpretou “Don’t Cry for Me Argentina” (de “Evita” de Lloyd Webber) como parte de um especial de TV celebrando Lloyd Webber, que, juntamente com o diretor Trevor Nunn, a convidou para se juntar ao elenco da produção de 2014 de “Cats” no West End de Londres. Scherzinger descreveu a experiência como transformadora (“todas as noites eu tinha a oportunidade de me desfazer do meu eu antigo e renascer novamente”), mesmo que ela não tenha continuado na produção quando o show foi para a Broadway. Em vez disso, ela decidiu se juntar ao “The X Factor”, o que deixou Lloyd Webber chateado.

Em uma entrevista por telefone, o compositor Andrew Lloyd Webber disse que estava desapontado porque acreditava no talento dela e “teria adorado vê-la mostrar na Broadway o que ela poderia fazer”. No entanto, eles continuaram amigos, ele acrescentou, e ficou encantado quando Lloyd sugeriu que Scherzinger interpretasse Norma. “Acredito que ela seja uma das atrizes-cantoras mais talentosas que já vi interpretar meu trabalho”, disse ele. “É um papel desafiador, mas Nicole é destemida musical e dramaticamente. Sou um fã total.”

Scherzinger disse que “The X Factor” lhe deu o tempo e a estabilidade financeira para seguir sua própria música, o que ela fez enquanto também assumia outros projetos, como dar voz à personagem Sina em “Moana” e estrelar uma versão televisiva de “Dirty Dancing”. No entanto, ela sempre acreditou, disse ela, que retornaria ao teatro musical, especialmente depois de atuar no especial de televisão “Annie Live!” em 2021.

Agora que ela está de volta ao palco, como se sente? Ela disse que se preparar para interpretar Norma foi catártico: “Eu senti que conhecia exatamente esse sentimento de abandono, de constante solidão, a necessidade insaciável de afirmação, validação. Agora, há essa épica e icônica trilha sonora onde posso botar tudo isso pra fora e criar arte a partir desses lugares de tormento.”

Lloyd disse que Scherzinger estava “constantemente buscando, questionando, encontrando detalhes, aprofundando sua compreensão do mundo interior da personagem.” Sua ética de trabalho (fazendo perguntas, anotando e trabalhando durante os intervalos), acrescentou ele, tem sido uma inspiração para todo o elenco. “Você nunca saberia, ao longo de todo esse processo, que ela não tinha experiência em atuação.”

Quando questionada sobre seus planos futuros, Scherzinger disse que seu sonho é escrever seu próprio musical, que seja minimamente baseado em sua vida.

“Depois de todos esses anos, finalmente tenho a coragem de não me preocupar com o que os outros pensam, de saber que tenho algo a dizer”, disse ela. “Como Jamie sempre diz, ‘Você é corajosa, seja ainda mais corajosa’.”

Matéria original: NY Times
Tradução e adaptação: Portal Nicole.

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